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CULTURA

Payne, en una Europa a sangre y fuego 

El historiador recorre las guerras civiles y revoluciones
del siglo XX en su nuevo libro

MANUEL DE LA FUENTE, MADRID
«Siglo XX, cambalache, problemático y febril»,
compuso el tanguero Enrique Santos Discépolo.

Quizá quería decir, siglo XX, matanza, carnicería, genocidio. Sangre sudor y lágrimas que Churchill pidió a su pueblo y que derramarían generosamente durante años las naciones de medio mundo, en una serie de enfrentamientos y degollinas que culminaron en la terrorífica escabechina de la II Guerra Mundial. Pero desde principios de siglo se habían producido luchas terribles que enfrentaron, principalmente, a fascistas y antifascistas, mejor aún, a fascistas y, casi sólo con la excepción española, donde el anarquismo era poderoso, a fascistas y comunistas. Esos senderos de apenas gloria y una violencia telúrica desatada son los que recorre el historiador norteamericano Stanley G. Payne (foto) en su nuevo libro, «La Europa revolucionaria. Las guerras civiles que marcaron el siglo XX» (Ed. Temas de Hoy).

La izquierda, sobre todo la española, siempre ha pensado que la Segunda Guerra Mundial no empezó con la invasión nazi de Polonia, sino que venía gestándose desde antes, en las calles de media Europa. «No creo en esta interpretación —asegura categórico Payne—. La Primera, aunque terminó en algunos enfrentamientos civiles, fue una guerra clásica entre estados nacionales e imperios. En cuanto a la Segunda, hubo una guerra principal y unas guerras paralelas, la mayoría luchas por la liberación, y alguna guerra civil como la yugoslava y la griega. Para mí, el concepto de guerra civil europea es una exageración».

Una guerra «muy especial»
En este desolador panorama, los españoles nos entregamos al frenesí cainita, al furor fratricida. «La Guerra Civil española es muy especial —describe el historiador—. Fue la única que tuvo lugar en el occidente europeo y su revolución no era comunista sino anarquista y socialista. También tuvo importancia desde el punto de vista militar, estratégico y armamentístico. Y por último, otra peculiaridad: en las guerras
civiles de Europa, cuando ganaban los contrarrevolucionarios lo normal fue que establecieran un sistema parlamentario; en España, sin embargo, acabó en una férrea dictadura semifascista».

Tampoco cree Payne que otro desenlace de nuestra contienda hubiese tenido alguna consecuencia: «Desde luego, Hitler no desató la guerra porque Franco ganara en España. No creo, como hacen los republicanos, que la guerra española fuera la primera batalla de la Guerra Mundial».

Finalmente, cabe preguntar: ¿está Europa totalmente vacunada contra las guerras civiles? «Esos conflictos fueron consecuencia de la convergencia de una serie de factores económicos, sociales, tecnológicos... que ni ahora ni en el porvenir inmediato se van a producir».
Bienvenidas sean las palabras de Payne. Sólo nos queda tocar madera.
13.02.2011
Neuropsicologia

Distúrbios de memória e  esquecimentos benignos 

Maria Alice de Mattos Pimenta Parente
Irene Taussik *



 
Freqüentemente, o envelhecimento está associado a dificuldades de memória e à lentidão de raciocínio. Nesse sentido, acredita-se que idosos ficam com dificuldades em lembrar e compreender situações novas que lhes são apresentadas rapidamente, mas em contrapartida, superam os jovens em raciocínios que exigem maior "sabedoria".

A Neuropsicologia, uma área do conhecimento que investiga as relações entre cérebro e cognição e que, atualmente, tem como uma área de pesquisa prioritária o envelhecimento, de uma forma genérica, tem mostrado que essas afirmações do senso comum apresentam alguma base científica, mas uma análise mais minuciosa do declínio cognitivo durante o envelhecimento mostra que tais constatações são apenas parcialmente verdadeiras. Apesar do declínio de algumas capacidades de memória (mas não todas) ser mais acentuado do que o das capacidades lingüísticas (que envolve conhecimentos aprendidos durante a vida do indivíduo) nesse artigo tentaremos mostrar que (1) existem diferentes memórias e que apenas algumas sofrem um decréscimo durante o envelhecimento; (2) que outras funções cognitivas, como atenção e planejamento podem afetar tanto a memória como a compreensão de linguagem e que (3) outros fatores de ordem biológica (alimentação adequada) ou psicológica (estado de humor positivo) influem na manutenção das funções cognitivas. Outras causas que provocam um declínio das funções cognitivas e que podem ser tratadas durante o envelhecimento indicam alguns caminhos para um envelhecimento cognitivo mais estável. Em outras palavras, a Neuropsicologia tem demonstrado que a crença de que o envelhecimento constitui um período de declínio inevitável está sendo atualmente desafiada, considerando o aumento de sujeitos que envelhecem não apenas de forma ativa e independente como também de forma criativa. 

Através do estudo de dificuldades de memória resultantes de uma lesão cerebral, ocasionada, por exemplo por um acidente de trânsito, ou por uma invalidez de guerra, a Neuropsicologia Cognitiva confirmou a existência de múltiplos sistemas de memória. Assim, atualmente acredita-se que a memória não é unidade. Ela pode ser classificada por diferentes aspectos, como o aspecto temporal. Algumas lembranças fazem referência a conhecimentos recentemente adquiridos. O mecanismo de memória dessas lembranças chama-se Memória de Curto Prazo. Outras lembranças, ao contrário, fazem referência a conhecimentos adquiridos há muito tempo. Elas estão armazenadas numa memória chamada de Longo Prazo. Com relação à essa dicotomia, os idosos têm muito mais facilidade em buscar informações da Memória de Longo Prazo do que da de Curto Prazo.

Um tipo de Memória de Curto Prazo, muito afetada pelo avanço da idade, é aquela chamada Memória de Trabalho ou também Memória Procedural. É uma memória que torna uma pessoa capaz de fazer uma tarefa complexa que envolve duas ou mais atividades que precisam ser realizadas ao mesmo tempo. Por exemplo, ficar guardando um número de telefone enquanto procura-se um lápis e um papel para anotá-lo. Esse tipo de memória envolve muita atenção, e com a idade, a atenção fica bastante prejudicada. 

Um outro tipo de memória também bastante afetado no envelhecimento é uma memória que está dirigida para os fatos do futuro, vulgarmente chamada de "memória de agenda". Seu nome científico é Memória Prospectiva. Alguns exemplos são: lembrar de tomar um medicamento a cada 4 horas; lembrar de ir ao médico em tal dia, etc. É uma memória direcionada ao que se passa no dia-a-dia de cada pessoa. Ela também exige muitos mecanismos atencionais, mas também outros mecanismos cognitivos importantes: planejamento, intenção e motivação. Para lembrar-se de tarefas futuras é preciso: (1) fazer um bom planejamento das atividades do período até a ação que deve ser memorizada; (2) ter uma intenção forte de lembrar de realizá-la para ser capaz de ativar a lembrança no momento certo e, consequentemente, (3) ter um alto grau de motivação, ou seja, querer realizar tal tarefa. Sem motivação, um planejamento adequado não é realizado e a intenção torna-se muito frágil para ativar uma lembrança que se faz necessária.

Assim, podemos observar que as falhas de memória podem ser decorrentes de dificuldades outras do que o guardar a lembrança e depois buscá-la. Como nos tipos de memória acima citados existe um envolvimento de motivação, atenção e intenção, é muito fácil entender que pessoas que não possuem um humor positivo (ou seja, aquelas que são depressivas ou ansiosas) apresentem dificuldades de memória bastante graves, não conseguindo organizar seu dia-a dia de forma adequada.

Existe um alto índice de depressão e ansiedade no idoso, muitas vezes em função de um certo isolamento causado pela perda ou distanciamento de familiares ou colegas de trabalho, pela mudança de um estilo de vida, não muito valorizado, etc. Entretanto, esses distúrbios emocionais são freqüentemente encontrados em adultos jovens devido a problemas afetivos ou a uma grande exigência de seu meio social. Em conseqüência, adultos mais jovens buscam os serviços de neuropsicologia com queixas de memória, preocupados por apresentar um declínio cognitivo de tipo demencial. 

Até aqui focalizamos tipos de memória que são muito afetadas nos idosos. Entretanto, a memória denominada Memória Semântica, aquela que guarda o significado de objetos e fatos, parece bastante mantida. Quanto à memória de eventos pessoais, ela fica preservada para os eventos relacionados a períodos da infância, adolescência ou da vida adulta do idoso. É conhecido o fato de que idosos lembram-se com detalhes fatos antigos, e conseguem contar histórias bastante ricas em detalhes e coerência. Não apresentam dificuldades de compreensão de histórias se for pedido a fazer um resumo e uma interperetação pessoal. Podem esquecer de alguns detalhes, devido a falhas de memória de curto prazo (de tipo memória de trabalho). Muitas terapias de adaptação do indivíduo a uma idade mais avançada incluem o enriquecimento e a valorização de auto- biografias, dando um significado novo à vida do idoso.

Esquecimentos benignos são aqueles que, com freqüência, ocorrem em pessoas ativas que têm possibilidades de desempenhar adequadamente suas tarefas diárias (Kral,1960). Tais esquecimentos podem ser: não se lembrar de um nome, mas "ter a palavra na ponta da língua; ir buscar alguma coisa e se esquecer do que ia fazer, etc. Geralmente, eles são compensados espontaneamente pelo indivíduo, mas podem causar alguns problemas graves. Por exemplo, foi o relato de uma funcionária: "eu chegava muitas vezes atrasada no meu trabalho, pois no meio do caminho lembrava-me que tinha esquecido algum material importante para as reuniões daquele dia. Resolvi buscar ajuda de um profissional da área da saúde, depois de uma repreensão de meu chefe". 

No exame neuropsicológico, os pacientes com esse tipo de esquecimento apresentam capacidades normais em quase todas funções cognitivas, salvo as de memória. Algumas vezes, eles têm dificuldades em provas de atenção, o que podem ser a causa das falhas de memória. No idoso, o esquecimento benigno caracteriza-se por uma inabilidade em recordar informações menos importantes, detalhes de uma história ou nomes de personagens. Entretanto, o conjunto das idéias essenciais de uma história é bem compreendido. Em um momento, a pessoa esquece de alguma informação, em outro, ela é recordada sem problemas. 

O esquecimento benigno afeta ambos os sexos. As causas mais freqüentes de esquecimento benigno são estresse, alguns distúrbios afetivos leves e idade avançada. O declínio cognitivo tende a aumentar a partir dos 85 anos, quando existe um risco maior de desenvolver uma demência. Por enquanto ainda é difícil prever se esses esquecimentos vão piorar e tornar-se uma doença degenerativa. Pesquisas que estudaram a evolução de grandes grupos com queixas de esquecimento benigno observaram que metade dos pacientes não piora. Parte desses pacientes tem distúrbios afetivos, como depressão e ansiedade, cuja terapia psicológica ou medicamentosa provoca também uma melhora dos esquecimentos.

Infelizmente, 50% dos pacientes, diagnosticados como portadores de esquecimentos benignos, evoluem para a doença de Alzheimer. Essa doença, que se inicia com sintomas muito parecidos aos esquecimentos benignos é irreversível e, progressivamente, as dificuldades em todas áreas da cognição (como linguagem, atenção e raciocínio) vão tornando-se mais graves.

Atualmente, ainda existe um enorme desconhecimento sobre o que significa um envelhecimento cognitivo normal, respeitando suas limitações características, e como distingüí-lo precocemente de um envelhecimento patológico. Assim, ao lado de um enorme investimento nas áreas médicas para buscar formas de estagnar a evolução da doença de Alzheimer, recentemente, uma grande parte das investigações da Neuropsicologia Cognitiva tem se destinado a encontrar "marcadores cognitivos". Esses são sinais ou sintomas que devem diferenciar de forma precoce as manifestações da doença de Alzheimer dos esquecimentos benignos, uma vez que existe uma possibilidade terapêutica para os portadores de esquecimentos benignos. 

De qualquer forma, enquanto os trabalhos de investigação continuam, é importante ressaltar a relevância do diagnóstico precoce das falhas de memória. Conforme as causas dos esquecimentos benignos, a terapia pode ser medicamentosa ou de reabilitação cognitiva. Nesse último caso, os pacientes são encorajados a utilizar estratégias (apoios ou dicas) para suprir as dificuldades de memória ou de atenção, podendo continuar a exercer adequadamente suas atividades diárias.

* Maria Alice de Mattos Pimenta Parente é professora do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Irene Taussik é aluna da Faculdad de Psicologia da Universidad de Buenos Aires 


El consumo habitual de analgésicos aumenta el riesgo de infarto 
Según un estudio de la Universidad de Berna 

C. GARRIDO,  MADRID 
 
Mensaje para aquellos que se han convertido en «adictos» a la aspirina, ibuprofeno o cualquier otro analgésico: su consumo habitual incrementa el riesgo de padecer problemas cardiacos.
Lo dice un estudio de la Universidad de Berna, en Suiza, que afirma que consumirlos de manera continuada durante varios años supone un aumento del riesgo de padecer un infarto de miocardio o un derrame cerebral. 
Desde que en 2004 se retirara del mercado el rofecobix, después de comprobar que era perjudicial para la salud del corazón, ha habido mucho debate sobre la seguridad del consumo de los denominados medicamentos antiinflamatorios no esteroideos (AINE).

La investigación, publicada por «British Medical Journal», incluyó 31 ensayos clínicos y a 116.429 pacientes, que se sometieron a un estudio de control con diferentes analgésicos (naxopreno, ibuprofeno, diclofenac, celecoxib, etoricoxib, rofecoxib y lumiracoxib) y placebo para proporcionar una estimación más fiable de los riesgos cardiovasculares de estos fármacos.

Los resultados concluyen que el riesgo cardiovascular absoluto en personas que consumen analgésicos es bajo, pero en comparación con el uso del placebo, estos fármacos conllevan riesgos importantes.

Los riesgos se multiplican
Por ejemplo, comparados con el placebo, rofecoxib y lumiracoxib incrementan dos veces el peligro de sufrir un ataque al corazón, mientras que el ibuprofeono multiplica por tres el riesgo de derrame cerebral. Los niveles de riesgo más altos se dieron con el uso de etoricoxib y diclofenac y los más bajos con el naxopreno.

Peter Juni, profesor de Epidemiología Clínica y uno de los autores de la investigación, ha explicado, en declaraciones a la BBC, que «es necesario extremar las precauciones a la hora de recetar estos fármacos en pacientes mayores que tengan dolores óseos o musculares». 

En cualquier caso, el experto advierte que este hallazgo no afecta a las personas que toman antiinflamatorios «de vez en cuando» para mitigar el dolor menstrual, de cabeza o de las lesiones deportivas. Pero si la persona necesita analgésicos de forma regular, por ejemplo porque tiene artritis, «debe hablar con su médico acerca de qué medicamento es el más adecuado para ellos».
13.02.2011

Mídia expõe imagem
negativa de idosos


A televisão invadiu nossas vidas de tal modo que muitos pesquisadores têm se dedicado a estudar este fenômeno social recente, como o americano George Gerbner, por exemplo, que, em 1993, analisou a questão do impacto da televisão em nossa cultura, e concluiu que a repetição de imagens e mensagens que chegam, ao mesmo tempo e em diversos lugares, e a um número muito grande de pessoas, influi diretamente na socialização, ou seja, na forma como convivem pessoas e gerações. Ele, inclusive, acredita que a visão que a sociedade tem hoje do mundo da velhice é uma construção do marketing comercial.

Todas essas questões envolvendo o convívio entre as gerações e o mundo da velhice motivaram uma série de pesquisas sobre as formas como os idosos são representados na mídia, principalmente na televisão, tanto nos EUA quanto em outros países como Canadá e Grã-Bretanha.
s pesquisas realizadas nas décadas de 70 e 80 diagnosticaram basicamente dois tipos de problemas ligados aos idosos na televisão: ênfase em características negativas e pouca representação dos mesmos. Alguns autores estudaram também as implicações econômicas desses mecanismos de exclusão utilizados pelas agências de propaganda.

Representação social negativa
Muitas pesquisas constataram que as características negativas do envelhecimento eram não somente mostradas, mas também enfatizadas nos programas e comerciais de televisão dos EUA.
O estudo de Northcott, por exemplo, na década de 70, concluiu que a imagem negativa da velhice na televisão era uma constante e os poucos personagens idosos sempre representavam papéis de menor importância e de menor visibilidade.
A pesquisa de Swayne e Greco afunilou mais a questão na década de 80, pois mostrou casos de duplo estereótipo negativo, ou seja, o das minorias idosas na televisão.

Também na década de 80, Dail mostrou que os idosos, muito mais do que qualquer outro grupo social, eram retratados na mídia de forma desagradável e negativa, principalmente com relação às suas habilidades físicas, sua saúde, sociabilidade, personalidade e capacidade de trabalho.

Em contrapartida, os ingleses Wober e Gunter, também na década de 80, realizaram um estudo a partir da opinião pública sobre a imagem da velhice nos programas de televisão. Os 339 participantes preencheram questionários e diários de observação sobre a programação de uma semana da ITV de Londres. De acordo com os participantes, cujas respostas foram analisadas por categorias de idade, gênero, raça, e classe sócio-econômica, não havia baixa representatividade dos idosos na televisão britânica. Eles observaram, entretanto, que a imagem da velhice era menos respeitosa nos programas de ficção (comédias e shows de ação e aventura) do que nos programas de notícias e documentários. Portanto, afirmaram esses autores, as conclusões dos americanos sobre o papel do idoso na mídia não se sustentavam integralmente na Grã Bretanha.


Minoria na publicidade
Outras pesquisas analisaram a baixa representação dos idosos nos programas e comerciais de televisão, e que ocorria devido à ênfase que este meio de comunicação sempre deu à juventude e à beleza, assim como à rapidez e ao tempo condensado.

Uma dessas pesquisas, a de Gerbner e Larry Gross, sobre 10 anos de programação da TV nos EUA (1982-1992), mostrou que os americanos com 60 anos ou mais eram apenas 5.4% dos personagens, embora fossem cerca de 17% da população. Eles observaram ainda que os idosos, apesar de seu crescimento numérico, perderam importância e valor no mundo da comunicação, tornando-se quase invisíveis na televisão, embora representassem a maioria dos telespectadores.

Um outro estudo, o de Elliot, também na década de 80, mostrou que os personagens mais velhos eram 8% de uma amostra de 723 personagens. Ele evidenciou também que havia uma baixa representatividade de mulheres mais velhas em relação aos homens nos EUA.

Na mesma época, Moore e Cadeau estudaram comerciais de estações canadenses e constataram que só 2% deles utilizavam atores idosos, na maioria homens. Por outro lado, dos 4% de comerciais que mostraram as minorias, em menos de 1% apareciam as minorias idosas.

Implicações econômicas
Alguns autores, também da década de 80, ressaltaram nos seus estudos o lado econômico dessa problemática. Diziam eles que, na questão dos comerciais, por exemplo, as empresas, ao ignorar os consumidores mais velhos ou perpetuar os estereótipos negativos sobre a velhice, acabavam deixando de lado um segmento do mercado com grande poder econômico.

Ken Dychtwald, por exemplo, em seu trabalho sobre os desafios e oportunidades dos idosos, salientou que a sociedade foi levada a crer na pobreza das pessoas mais velhas, o que nem sempre é verdade, porque a população mais velha dos EUA, apesar de representar, no final da década de 80, somente cerca de 25% da população, tinha renda alta e controlava uma grande quantidade de dinheiro. Além do mais, dizia ele, a sociedade também foi levada a acreditar no apego dos idosos às suas coisas, esquecendo-se da sua disposição em trocar o velho pelo novo, desde que conveniente.

A realidade dos anos 90 nos EUA Na década de 90, Meredith Tupper realizou uma pesquisa para examinar se os problemas identificados nos anos 70 e 80, ou seja, a subrepresentação dos idosos e a imagem negativa da velhice na televisão ainda podiam ser identificados. Foram analisados 278 comerciais de uma semana de programação (60 horas), mostrados, entre 20h e 23h, nas quatro maiores redes dos Estados Unidos (ABC, CBS, NBC, e Fox), em novembro de 1994.

Foram catalogados 829 personagens, 68 (8,2%) dos quais eram idosos, presentes apenas em 42 (15%) dos comerciais, sendo que somente em 6 deles os idosos interagiam com jovens, adultos e crianças. Os personagens idosos de cada um dos comerciais foram então catalogados e analisados por categorias. A analise por gênero mostrou que 39 dos 68 personagens idosos eram homens, apesar das mulheres serem maioria nos EUA em 1990. A análise por raça foi feita com base em critérios culturais, e evidenciou a imensa maioria (84%) de anglo/europeus, em detrimento de afro-americanos e outros. As análises por ênfase do personagem no comercial e por locação do mesmo, e dos produtos anunciados não revelaram, entretanto, estereótipos negativos vistos nas décadas anteriores.

A conclusão desse estudo é que a imagem do idoso nos comerciais de televisão era menos negativa do que se pensava. O que parece ter ocorrido é que os resultados das pesquisas anteriormente efetuadas mudaram as formas da propaganda mostrar o idoso. Entretanto, concluiu a autora, é verdade que foram reduzidos os estereótipos sobre a velhice na televisão, mas reduziram-se também as oportunidades dos personagens idosos, ainda pouquíssimo presentes nas propagandas.

A realidade brasileira
No Brasil, como em outros países, estudos sobre os idosos também têm sido realizados, analisando jornais e revistas, entre outras mídias, e com enfoques mais qualitativos do que quantitativos.

Solange Maria de Vasconcelos lança algumas luzes sobre a questão, através de uma abordagem semiológica. Após trabalhar conceitos e caracterizações da velhice, a autora fez reflexões sobre os mitos que a sociedade tem construído e perpetuado a respeito do "velho", buscando os sinais destes mitos na análise do discurso publicitário das revistas Cláudia e Veja, desde a década de 1960 até a virada do milênio.

Esse estudo constatou que as propagandas utilizando idosos, ou a eles dirigida, sempre foram muito poucas em relação ao total, oscilando entre 0,24% e 4,83%, dependendo do período e do veículo analisado. Por outro lado, o estudo da simbologia dos anúncios publicitários confirmou "a hipótese de que no início da década o Brasil tratava o "velho" com indiferença e só com a descoberta de um mercado de consumo ligado a este gênero é que o mesmo ganhou importância social".

Nas décadas de 20 e 30, os idosos, quando apareciam em anúncios, eram sempre ligados a produtos farmacêuticos, o que começou a mudar, principalmente a partir das décadas de 50 e 60, e mesmo 70. Nestes períodos, os idosos já eram mostrados no meio de suas famílias, em anúncios de higiene pessoal, cosméticos, roupas, alimentos, e mesmo de instituições financeiras, mas sempre como figurantes, não como personagens principais, no máximo exercendo os seus papéis tradicionais de avós.

Nas décadas de 80 e 90, já se pôde perceber uma mudança substancial, pois os idosos começaram a ser conclamados a adquirir valores mais modernos, como participação social, segurança, auto-estima, tudo isso através da compra dos novos e revolucionários eletrodomésticos e eletroeletrônicos, assim como automóveis e serviços bancários. Essa tendência a encarar os idosos como consumidores potenciais foi mantida na virada do milênio, quando eles continuaram a ser conclamados a comprar automóveis, aparelhos de telecomunicações e de computação, entre outros.

Portanto, no Brasil, como nos EUA, as pesquisas indicam que houve mudanças nas formas como as propagandas comerciais se referem ou se dirigem aos idosos, os quais, hoje, não são mais caracterizados de formas tão negativas como já o foram no passado. Mas também aqui, como nos EUA, os idosos continuam a ser muito pouco representativos nas propagandas, se formos considerar a totalidade das mesmas.


Referências bibliográficas

Dail, P. W. (1988). Prime-time television portrayals of older adults in the context of family life. The Gerontologist, 28, 700 - 706.

Dychtwald, K. (1988). The challenges and opportunities of an aging America. Los Angeles: J. P. Tarcher.

Elliot, J. (1984). The daytime television drama portrayal of older adults. The Gerontologist, 24, 628-633.

Gerbner, G. (1993). Learning Productive Aging as a Social Role: The Lessons of Television, in Achieving a Productive Aging Society, Bass, S.A., Caro, F.G., and Chen, Y.P., eds. Westport, Conn.; London: Auburn House.

Moore, T. E. & Cadeau, L. (1985). The representation of women, the elderly and minorities in Canadian television commercials. Canadian Journal of Behavioural Science, 17, 215-225. Northcott, H. (1975). Too young, too old - Aging in the world of television. The Gerontologist, 15, 184 -186. Swayne, L. E. & Greco, A. J. (1987). The portrayal of older Americans in television commercials. Journal of Advertising, 16, 47-54.

Vasconcelos, Solange Maria. (2001). O "velho" na Publicidade Brasileira. Dissertação de Mestrado, UMESP- Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo.

Wober, M. & Gunter, B. (1982). Impressions of old people on TV and in real life. British Journal of Social Psychology, 21, 335-336.
Reportagem publicada anteriormente na revista IdadeAtiva.

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13.02.2011