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LIVRO

Procura-se: remédio contra a velhice

Por séculos, a busca pelo elixir da juventude foi especialidade de curandeiros e charlatões - hoje, atrai cientistas de verdade e gigantes da indústria farmacêutica


Em 1923, aos 67 anos e já pai de três filhos, três filhas e da psicanálise, Sigmund Freud decidiu fazer uma vasectomia. A técnica de esterilização havia sido desenvolvida cerca de duas décadas antes - mas, para Freud, esse era apenas um dos atrativos da operação. Como centenas de homens de seu tempo, o austríaco foi atraído pela promessa de que a vasectomia teria, na verdade, poderes rejuvenescedores.

Alguns anos depois, o poeta irlandês William Butler Yeats seguiu caminho semelhante e ficou maravilhado com os resultados. A cirurgia, escreveu, "praticamente fez de mim um novo homem. Não me sinto mais no fim da vida". Yeats morreria cinco anos depois, aos 73.

A onda de vasectomias no século passado foi mais um capítulo da longa e fracassada história da busca pelo elixir da juventude. O implante de testículos de macacos em europeus aflitos foi outro ponto baixo dessa história. Por volta de 1930, a demanda chegou a um nível tão grande que foi preciso construir uma fazenda de macacos para garantir o fornecimento do material "mágico". Episódios como esse deixaram uma marca profunda - por séculos, a procura por formas de combater o envelhecimento foi desdenhada como uma pseudociência. Coisa de charlatões.

Felizmente, essa má fama está, aos poucos, sendo desfeita. Na última década, cientistas de instituições como a Universidade Harvard obtiveram avanços monumentais na pesquisa de substâncias que podem aumentar a longevidade de seres humanos - e, mais do que isso, fazê-lo sem que os últimos anos de vida sejam um tormento marcado por doenças crônicas e internações hospitalares. É o que mostra o jornalista americano David Stipp no recém-lançado The Youth Pill ("A pílula da juventude", sem previsão de lançamento no Brasil).

Descobertas recentes, escreve Stipp, fizeram com que um nicho antes desprezado entrasse na mira de grandes empresas farmacêuticas e investidores. Em 2008, a gigante britânica GlaxoSmithKline comprou o laboratório de biotecnologia americano Sirtris por 720 milhões de dólares. Os cientistas por trás do Sirtris haviam sido responsáveis pela conclusão de que o resveratrol, substância encontrada no vinho tinto, alonga a vida de ratos. A chegada de "pílulas da juventude" às farmácias, antes tida como sonho distante, é hoje viável.

Quando um entrevistador perguntou à atriz francesa Catherine Deneuve como ela havia conseguido passar dos 60 anos com, digamos, tudo em cima, a resposta foi: "Se você quer uma explicação, vá conhecer a minha mãe. Tem 98 anos. É genético". Claro, botox, cirurgias plásticas e outras maneiras de amenizar os efeitos da idade ajudam - mas ela, no fundo, tem razão.

Estudos feitos com pessoas centenárias mostram que há, nesse grupo, de tudo um pouco. Aquele que come bacon no café da manhã todos os dias; outro que nunca se exercitou em 100 anos; a centenária que devorava um pacote de biscoito recheado de uma só vez; aqueles que haviam fumado por décadas. Ou seja, quem nasceu com o DNA certo pode chegar aos 100 mesmo sem ter feito sacrifício algum em seu estilo de vida. Já o resto da humanidade pode até se exercitar, entupir-se de salmão com salada, manter-se intelectualmente ativo: mesmo assim, será muito difícil para os não escolhidos chegar aos 100 anos. Parece cruel, mas, para os cientistas, essa foi uma descoberta revolucionária. Eis, escreve Stipp, o atalho para criar a pílula da juventude: encontrar os genes que fazem a diferença.

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18.02.2011